Na parte II deste livro é retratado as questões voltadas à psicopatologia e a presença constante deste termo na contemporaneidade, no sentido, de que a sociedade quanto mais cultural for maior é o seu sofrimento psíquico. As pressões, tensões, prazos e o consumo desenfreado estão levando as pessoas para as novas doenças do século.
A autora define Psicopatologia como [psic(o) + patologia] “patologia das doenças mentais ou como o estudo das causas da natureza das doenças mentais.” (p.112). Significa, então, sofrimento, paixão, passividade, numa perspectiva do Pathos, que é o que a Psicopatologia Fundamental pretende resgatar a dimensão subjetiva e singular contida nele.
A autora, também, propõe um olhar crítico “para a compreensão do fenômeno psicopatológico” (p.125). Essa psicopatologia traria um olhar de um homem como um todo e não uma visão dicotomizada, além de não pretender uma neutralidade científica ou sintomatizar a enfermidade. Ela compreende toda a experiência psicopatológica.
Essa nossa cultura individualista, que nos impõe uma busca constante de um “ideal de felicidade” (p.132), cria uma série de condições propicias “ao desenvolvimento de doenças mentais” (p.140). Para ter corpo belo, dinheiro, felicidade, sucesso, entre outros desgasta o sujeito levando-o ao sofrimento psíquico, que não significa doença mental.
“Ou seja, na medida em que a forma de viver e pensar das pessoas se insere em uma cultura individualista, mais e mais estas pessoas terão propensão a desenvolver quadros psicopatológicos.” (p.231)
Mas, essa mesma sociedade para amenizar todos esses problemas, cria a forma de tratar todas essas doenças e sofrimentos. Aí vem a era dos antidepressivos para uma solução imediata dos problemas, “trata-se de eliminá-los a qualquer custo” (p.160). Uma psicoterapia individualmente não basta, tem que usar remédios que amenizem a “dor” prontamente. E, estes só tratam o sintoma e não o que o levou a isso.
A autora ilustra o caso de Pedro no capítulo 9, e mostra essa questão do “poder biomédico” (p.170) que comercializa o sofrimento psíquico como uma “doença a ser tratada com remédios” (p.170).
Desta forma, “o que acontece é que a psicopatologia se constitui mutuamente com a contemporaneidade, isto é, ao mesmo tempo em que se cria a doença se criam os profissionais que vão tratá-la.” (p.177)
Na medida em que ocorre a ocidentalização das sociedades tradicionais, “o diagnóstico de depressão se torna mais frequente.” (p.190). E, cada dia que passa aumentam as patologias mentais no mundo inteiro. Como diz a autora, “é, sem dúvida, a expressão de um processo de deteriorização e destruição humana”. (p.192). Da mesma forma diz Nietzche – citado por ela – é o “instinto de autodestruição” (p.219) dos homens.
Essa nossa “incapacidade de viver significamente” (p.203), esse nosso individualismo está nos levando a um desencadeamento de problemas emocionais, pois não temos mais onde colocar tantos afazeres em prol do nosso próprio bem-estar, e não olhamos para o outro ao nosso lado, não olhamos para as desigualdades sociais e para as necessidades de uma coletividade. É por isso que a cidadania está fora de moda, estamos vivendo em um mundo de desafetos, onde o que só importa é o meu próprio umbigo e nada mais. Esse é o fruto do capitalismo e da sociedade de consumo, temos que ter e possuir tudo e todos sem medirmos esforços. Então, isso nos leva a que? Ao sofrimento psíquico e aos antidepressivos. Virou moda ter alguma doença da mente, se você não teve ou tem algum problema psíquico, então você é o diferente, o excluído.
Moreira, V. ; Sloan, T. (2002). Personalidade, Ideologia e Psicopatologia Crítica. São Paulo: Escuta.
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