Por Norma Érika Leite Lima
A educação deve atentar para as questões subjetivas presentes no desenvolvimento da criança e do jovem. Que tipo de indivíduo estamos formando, deve ser um questionamento recorrente entre gestores e mestres. Transtornos alimentares, como a bulimia e a anorexia, decorrentes da realidade cultural em que vivemos, manifestam-se ainda no meio escolar e, sendo assim, precisam ser prevenidos e detectados pelos profissionais da educação.
O alimento é mais do que uma fonte de nutrição, este desempenha diversas funções nas sociedades humanas, estando intimamente relacionado com aspectos sociais, culturais, econômicos e com os valores de cada local; sendo, portanto, o alimento parte essencial da maneira como uma sociedade se organiza.
O alimento pode ser ingerido por razões, tanto nutritivas quanto culturais, podendo afetar a nutrição do indivíduo de duas formas: excluindo nutrientes essenciais ou estimulando o consumo de determinados alimentos ou bebidas que se tornam prejudiciais à saúde.
A relação do indivíduo com o alimento, por sermos seres sociais, não se detém ao aspecto fisiológico, mas é influenciada por uma gama de fatores determinados pelos hábitos de cada local.
Os transtornos alimentares, mais amplamente estudados nos últimos trinta anos pelo reconhecimento do elevado comprometimento físico, psicológico, familiar e social, precisam ser compreendidos pelos educadores em esfera macro, a fim de minimizarmos os danos causados e garantirmos uma educação preventiva.
Os transtornos alimentares, em especial a bulimia e a anorexia, são representantes de emoções, de conflitos internos não trabalhados ou, muitas vezes, desprezados ou não vistos pela família. São reflexos de uma cultura que valoriza o superficial, que segue o ideal de beleza imposto pela mídia. Porque esses novos “valores” estão “fazendo a cabeça” de nossos jovens? E o que a educação tem a ver com isso?
Os transtornos alimentares estão diretamente relacionados com o tipo de interação estabelecida entre um indivíduo e sua sociedade, com a forma de entender e significar o que os outros o colocam. Disso decorre a importância do processo educacional ao fazer a mediação entre o aprendiz e sua cultura da forma mais saudável possível, através do auto-conhecimento, da quebra de paradigmas, da criticidade, e do exercício da melhor maneira de lidar e de receber o que o meio nos passa.
A auto-imagem e os sentimentos associados à percepção do próprio corpo e peso são aspectos fundamentais no reconhecimento de um transtorno alimentar. Ou seja, uma criança ou jovem que diz se achar sempre gordo, insatisfeito, quando sua real condição não é essa, dele alertar o professor. Devido à mídia é comum ouvirmos nas escolas relatos de jovens que querem se assemelhar a algum artista ou seguir o padrão de beleza imposto, o importante é perceber quando essa “vontade” de mudar o corpo toma maiores proporções.
Nos jornais, na TV, na Internet, fala-se com freqüência sobre novos métodos e dietas milagrosas para emagrecer, sobre a necessidade de exercícios físicos e até sobre os riscos que os excessos na dieta e na ginástica podem provocar.
Teoricamente, toda essa discussão ocorre em nome da saúde e da obtenção e manutenção de um corpo belo, de acordo com os critérios da sociedade atual. Sim, porque, historicamente, o padrão de beleza mudou muito das volumosas mulheres do passado, até chegarmos as top models supermagras da atualidade.
Segal (2004) considera que fatores cognitivos e do comportamento influenciam decisivamente nos hábitos alimentares e na prática de atividades físicas de um indivíduo, vale lembrar também que os fatores ambientais potencializam os eventuais fatores genéticos o que significa que, havendo uma tendência inata para algum transtorno alimentar, o meio, as relações, a educação que se recebe pode fazer com que o sujeito não desenvolve esse mal, a partir de seu “re-conhecimento” e da busca por outras formas de lidar com as questões que a vida de cada um de nós traz (BEAL e SILVA, 2008).
Segundo o DSM-IV (Quarta edição do Manual de diagnóstico e Estatística dos Transtornos Mentais da Associação Norte-Americana de Psiquiatria), os transtornos alimentares podem ocorrer de duas formas principais: Anorexia e Bulimia (BEAL e SILVA, 2008).
Na anorexia encontramos a dificuldade do indivíduo em manter o peso acima do mínimo considerado normal para a sua idade e altura, há um medo intenso de engordar, apesar de estar abaixo do peso. Pela alteração da imagem corporal, quando o indivíduo sempre se enxerga de forma imperfeita, há um grande sofrimento que leva a busca de sérios métodos restritivos alimentares ou, após a alimentação, a formas purgativas (BEAL e SILVA, 2008).
A bulimia se caracteriza pela alimentação em quantidade exagerada e em um curto espaço de tempo, sendo esse o momento chamado de compulsão alimentar. Passa-se pelo sentimento de falta de controle sobre o que se come, e a quantidade. Como compensação pela excessiva ingestão, recorre-se a vômitos auto-induzidos, laxantes, diuréticos... (BEAL e SILVA, 2008).
O tratamento desses transtornos exige uma equipe multidisciplinar formada por psicólogo, psiquiatra, nutricionista, endocrinologista e clínico geral, além de um enfoque multidimensional, ou seja, que englobe os vários aspectos do transtorno para cada indivíduo em particular (BEAL e SILVA, 2008).
Convém lembrar que esses transtornos não se devem exclusivamente a problemas fisiológicos. Decorrem também de causas emocionais, sócio-culturais, familiares, etc. Normalmente, a anorexia e a bulimia estão associados a uma faixa etária, a adolescência, podendo interferir no crescimento e desenvolvimento do paciente. Na maioria dos casos, ambos os transtornos atingem majoritariamente o sexo feminino. Mas é preciso atenção já que por longo tempo os homens ficaram excluídos do diagnóstico dos transtornos alimentares, pois se acreditava que ocorriam apenas em mulheres. Casos no sexo masculino, entretanto, são descritos desde o início da história médica dos transtornos alimentares: Richard Morton, em 1689; William Gull, em 1874. Mesmo assim, foi apenas a partir das três últimas décadas do século XX que os transtornos alimentares em homens realmente começaram a chamar atenção dos pesquisadores (BEAL e SILVA, 2008).
Bibliografia
• GOLEMAN, Daniel. Inteligência Emocional: A teoria revolucionária que redefine o que é ser inteligente. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.
• HELMAN, Cecil. Cultura, Saúde e Doença. 4º Ed. Porto Alegre: ARTMED: 2006.
• Revista Pátio. Transtornos Alimentares na escola.Número 46, mai/jul. 2008.
• Revista Psique: Ciência & Vida. BEAL, Kátia; SILVA, Daniela. Transtornos Alimentares, São Paulo: Editora Escala, número 30, 2008.
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